(¯`·._.·[ FADA.COM]·._.·´¯): REFLETIR SEMPRE NOS ENOBRECE...

Ola fadinhas, esse espaço é reservado para podermos flutuarmos num mundo de magia, na qual todos os sonhos são possiveis.

quinta-feira, 19 de março de 2009

REFLETIR SEMPRE NOS ENOBRECE...

Postado por Anne Scandell fadacom às 12:38

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Novo Texto da minha amiga Pétala Tuani

Venha ver a lua-cheia...

Os minutos passavam como horas, as horas como dias... E Raquel via-se sufocada por seus próprios gritos em meio ao silencio daquele cemitério sombrio. O tempo havia se perdido e, ao seu redor, só havia as cinzas daquilo que seria o seu futuro lar. O odor da morte confundia-se com os últimos feixes solares e esses enchiam seu peito de angústia e dor. As lembranças tornavam-se cada vez mais amargas e, tudo aquilo que acreditara ser infinito, havia se dizimado como a fina areia por entre os dedos.
Tudo havia perdido o sentido. Tudo. Nem mesmo aquele ingênuo amor que nutrira durante toda a vida por Ricardo sobrevivera a cruel realidade em que se encontrava, desfalecendo pouco a pouco. Suas pálpebras fecham suavemente, nada mais importa, sequer sua vida, apenas o desejo insaciável de vingança alimenta sua alma, dando-lhe força para resistir à morte.
Subitamente, uma brisa congelante toca-lhe a face e, involuntariamente, suas pálpebras erguem-se. Em meio àquela singular escuridão, prostra-se a assustadora imagem de seus próprios olhos verdes e oblíquos, como se a sua frente houvesse um grandioso espelho capaz de refletir apenas a magnitude de seu olhar indecifrável.
O medo tomou conta de seu ser e, na tentativa de adormecer novamente, Raquel recorda-se da doce imagem da menina Emília anteriormente revelada:
— Acorde Raquel, acorde!
Ao ouvir o leve sussurro ao seu ouvido, Raquel dá-se conta de que não se encontrava sozinha no interior daquela antiga capela. O espírito da jovem havia estado ao seu lado durante toda a noite.
Por um momento pensou estar morte, mas sentiu seu peito encher-se de ar e, assim, na tentativa de lutar pelo pouco de vida que ainda lhe restava, segura firmemente àquela fria mão estendida e, olhando em seus olhos, o jovem espírito lhe revela que em breve estará livre. Porém, um forte laço é firmado e esse as unirá eternamente.
Na ânsia de vingar-se, a prisioneira aceita, sem hesitar, a proposta que lhe foi oferecida. Conduzindo-lhe a sua catacumba, Emília mostra-lhe um túnel secreto que a levará a um tenebroso sobrado, onde Raquel permaneceu por três semanas, calculando, minuciosamente, seu plano maléfico contra aquele que havia sido responsável pelos piores momentos de sua vida.
Os dias haviam se passado, mas Ricardo nada mais pensava senão naquela cena inesquecível do abandono de seu amor platônico. Quanto mais recordava, mais orgulho surgia em seu peito. Era imensurável a perfeição de sua obra, sentia-se como Narciso admirando seu feito.
Ao final do pôr-do-sol, quando estava em sua ínfima pensão, Ricardo é interrompido em seus pensamentos macabros ao perceber que alguém batia à porta. Assustado com o desconfiante ruído, em passos temerosos, o rapaz encaminha-se à porta. Ao abrir, para sua surpresa, não havia ninguém, apenas um singelo e envelhecido envelope. Era tão amarelado e empoeirado, que suas lembranças transformaram-se em um pensamento receoso, como se suas horrendas ações pudessem ser descobertas. Logo percebeu que isso era impossível e, rapidamente, tomou o envelope que, de tão velho, esfarelava em suas mãos, e adentrou à pensão.
Todavia, ao abri-lo, se deparou com uma inusitada mensagem anônima, relevando que seu crime fora descoberto, provocando a gênese do desespero e fazendo com que Ricardo, atormentado, indagasse como isso pudera ocorrer. Será que as crianças da ciranda desconfiaram da estranha visita ao cemitério e descobriram tudo?
Atordoado e sem encontrar respostas para sua indagação, Ricardo volta o seu olhar para o bilhete revelador, ainda esperançoso com a possibilidade de tudo não passar de uma triste ilusão. Porém, quanto mais observava, mais real tornava-se aquela situação. Em um de seus olhares desesperados, Ricardo nota sutis rabiscos ao pé do bilhete: “A verdade sempre vem à tona. Todavia, ainda pode ser adiada... Encontre-me no velho parque-de-diversão que fica próximo ao cemitério abandonado, hoje, às 00:00 hs. Aguardo-o ansiosamente ao brilho do luar...”.
Tudo parecia não ter lógica, mas, para evitar as trágicas conseqüências da revelação de seu ato, Ricardo resolve comparecer ao encontro.
Já era noite, a lua-cheia parecia misteriosamente maior e os uivos dos lobos aumentavam paulatinamente. Ricardo chegara ao local combinado com o remetente anônimo exatamente na hora marcada. Sua pontualidade revela sua ímpar ansiedade em acabar definitivamente com aquela história. Seus pensamentos atordoados convergiam para a decisiva idéia de, a qualquer custo, colocar um ponto-final categórico na tragédia de Shakespeare que vivenciava.
O parque-de-diversão encontrava-se aparentemente vazia, não havia sinal de vida humana naquele assombroso lugar. Por um momento, todo aquele abandono resgatou as recordações secas daquele dia marcante, fazendo um sentimento angustiante e amedrontado surgir no peito de Ricardo.
A linearidade estática do patético local quebrou-se com a visão de um carrossel, que girava harmoniosamente e iluminava toda a noite com suas luzes coloridas e brilhantes, que complementavam o belo luar. Porém, a localidade ainda revela-se abandonada, Ricardo resolve procurar a figura que marcara o encontro e, a passos desesperadores, percorre o parque que agora parecia ter quilômetros, mas nada encontro.
Abruptamente, é surpreendido quando seus ouvidos contatam risos distantes, risos macabros que, pela primeira vez, o faz sentir como vítima da historia que ele mesmo havia escrito, como se a criação resolvesse, de forma indecifrável, vingar-se do criador.
Ricardo caminha em direção ao barulho, que, gradativamente, torna-se mais alto. O coração dele palpita em uma velocidade imensurável. A angústia apossa de seu ser, já não corresponde mais à sua mente, é levado naturalmente para o desconhecido. Em meio a escuridão, Ricardo enxerga uma cabana iluminada. Ao aproximar-se, cessam-se os risos. A proximidade agora é minúscula, consegue olhar para o interior da cabana e, cautelosamente, constata que não há ninguém em seu interior. Resolve adentrara e, ao realizar esse feito, uma grade aprisionadora isola-o lá dentro em uma inacreditável e perfeita armadilha.
Ao perceber tal artimanha que acabara de vitimar-se, Ricardo desespera-se e passa a vivenciar a face até então desconhecida da trama que um dia fizera parte. Em uma sincronia maléfica, Ricardo se vira para a grade que acabara de prendê-lo e vê a figura de Raquel, posta a sua frente, com os seus olhos ainda mais verdes e oblíquos, nos quais o sentimento de ódio é visível.
Não acreditando na sua visão, Ricardo sente suas pernas enfraquecerem e vai ajoelhando-se aos poucos com suas mãos deslizando, sem nenhuma resistência, pela grade que se prostrava a sua frente. Raquel sente seu peito inflar-se com um sentimento de felicidade vingativa. Seus olhos o fitaram, não havia nenhum desvio, tudo se resumia àquela cena.
Passados alguns minutos de singular revelação, Raquel resolve acabar de uma vez por todas com aquela desoladora realidade e, num impulso de vingança, fala:
— Surpreso Ricardo?! Achou que eu tinha morrido... Mas eu não cometerei o mesmo erro que você, só vou embora com a garantia de que você morreu!
Em meio a essas palavras, Ricardo permanece atônito, não é capaz de proferir um só vocábulo, apenas acompanha com seu olhar temeroso os movimentos daquela que um dia amou. Raquel, alimentando seu espírito de amargura, cumpre o seu pacto com Maria Emília, pondo em chamas a velha cabana que envolve aquele que fora parte de seus melhores e piores sentimentos.
Aquecida pelo calor das chamas, Raquel, agora aliviada, vai se afastando quando, de repente, percebe a presença de sua cúmplice, a quem entregara a alma do já esquecido amado. Porém, para sua surpresa, a jovem Emília não estava satisfeita com a aliança já cumprida e resolve se apossar da alma de Raquel.
O espírito sombrio persegue-a pelo parque abandonado, fazendo com que ela corra desesperadamente em busca de alguma saída para tamanha complicação. Tudo acontece velozmente, Raquel já não suporta fugir, o cansaço lhe corrói e acaba por cair em meio ao patético local. O fim parece chegar, um desfecho trágico e inesperado, e Raquel percebe que não há mais como lutar, a vida vai desfalecendo e ela entrega-se ao seu destino macabro em meio as luzes e ao som do carrossel.
Sob o brilho da lua-cheia, tudo agora parece retomar a peculiar tranqüilidade daquele lugar. Tomada por uma aura de satisfação e plenitude, Maria Emília, revitalizada com a alma dos dois amantes, caminha, acompanhada pelos espíritos das crianças da ciranda, seus seguidores, rumo ao repouso eterno.

Pétala Tuani, Angélica Ferreira e Daliane Meneses